A obra de arte x reproduções impressas
- isalopvaz
- 30 de out.
- 2 min de leitura

Na era do consumo, a quantidade e a variedade de produtos são vertiginosas. Saber escolher e comparar custo-benefício tornou-se uma tarefa urgente — e, ao mesmo tempo, cansativa. Nesse contexto, é inevitável refletir sobre as reproduções de obras de arte e fotografias, que vêm ganhando espaço na decoração em detrimento das pinturas e gravuras originais.
Diversos ensaios já trataram do tema, como o clássico de Walter Benjamin, A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1936). Embora antigo, o texto do pensador mantém-se atual e pertinente. A questão central que se coloca é a da “aura” do objeto artístico e da popularização das imagens por meio das diversas técnicas de reprodução.
Hoje encontramos desde “telas” impressas até camisetas, sacolas, cartões e livros. A popularidade de alguns artistas está mais associada à capacidade de reprodução de suas obras do que à apreciação de sua linguagem expressiva e ao conhecimento do processo artístico que as originou. Nas redes sociais, as obras também perdem parte de sua originalidade: faltam-nos a proporção real do quadro, as texturas e as cores originais.
O prejuízo disso recai sobre os caminhos que a arte precisa trilhar para alcançar seus resultados — uma busca por uma “arte final” rápida, descolada de seu processo criativo e, portanto, esvaziada de sua essência. Por um lado, temos acesso a obras que talvez nunca pudéssemos contemplar presencialmente. Por outro, passamos a nos contentar com imagens que, muitas vezes, não preservam as cores, as proporções e, assim, perdem a “aura” do original.
Enquanto isso, artistas disputam um mercado acirrado — e discreto — de poucos clientes que ainda se dispõem a valorizar a arte em sua origem: o trabalho direto do artista. Essas obras, geralmente (embora nem sempre), são mais caras e resultam de processos criativos complexos, originais, que envolvem técnica, pesquisa e o uso cuidadoso de materiais duráveis.
Claro que é maravilhoso ter acesso a esses recursos tecnológicos — eles ampliam horizontes e democratizam o contato com a arte. Mas é importante lembrar que a arte continua tendo o papel de expressar a beleza e dar visibilidade ao que é sutil — algo que só é possível através de processos, e esses precisam ser valorizados.
Em suma, tenha belas reproduções, não há problema nisso! Mas não se esqueça de valorizar os artistas de seu tempo e seus processos. As artes visuais — e seus artistas — agradecem.


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